domingo, abril 20, 2008

Pequenos Diálogos II

03/04/2008
— Uhuuuu...
— Pelo cavanhaque de Lênin! O que você quer agora? Já não lhe demos o capilé? E olhe que é um capilezão!!!
— Ah, já, Sapientíssima. Sabe o que é? Posso...?
— Tá, beije a minha mão, mas sem babar.
— Eu babo de admiração!
— Amor remunerado tem outro nome, cara... O que você quer?
— Gostou?
— Gostei do quê?
— Da dobradinha! Acho que pegamos eles, doutíssima! Já está todo mundo questionando o Álvaro Dias, a fonte daquela revista malvadinha.
— Pelos furúnculos no traseiro de Marx! Ele não é a fonte.
— Nãããooo? Ai, que aflição!
— Calma, não vá desmaiar. Não tenho paciência pra chilique de homem.
— Ah, não exagere, danadíssima! Então...
— Então as coisas continuam muito ruins pra nós.
— Ai!!! Os meus dez leitores e meus 5 mil comentaristas estavam tão animados...
— É bom não exagerar.
— Mas eu só vim aqui, Esplendorosíssima, para... posso?
— Pô, vai agora querer as minhas balinhas light também?
— Ouvi dizer que coisa light também engorda, Musíssima...
— Idiota! “Musíssima”? Que diabo é isso?
— É que já não encontro mais adjetivos para fazer superlativos. Resolvi apelar aos substantivos. Não sou danado? Eu sou fogo na roupa!
— Ai, como você é insuportavelmente cafona! O que você ia dizer, fala logo e desinfete o ambiente.
— A Gigantíssima viu que ele colaborou bem, né? Eu já havia até adiantado a nossa parceria.
— É, vi, mas nada está resolvido. E preciso saber que...
— Ai, generalíssima, deixe que eu adianto a frase: “É preciso saber que prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Acertei???
— Foooraaaa da minha sala!!!

04/04/2008
— Gigantíssima!
— Fala, aspira!
— Encontramos esta coisa se esgueirando nos corredores. A Sapientíssima conhece?
— Olááá...
— De novo? Conheço, soldado. Pode soltar.
— Ai, bruto! Me largue! Viu? Eu sou amigo dela, tá?
— Amigo porcaria nenhuma! Você é serviçal.
— Ah, sou tão fã desse seu estilo “deixa que eu chuto”...
— Que é? Já mantenho o seu emprego. Você já não paga o que deve. O que mais?
— Então, situação periclitante, né?
— Claro! Vivo cercada de incompetentes...
— Ah, eu fiz a minha parte.
— Pode ficar de pé...
— Não consigo...
— Fez, fez... Adiantou? Taí. Aquela revista solta uma matéria, e olha o estrago!
— Pois é... Tenho um plano.
— Xiii, você não tem plano, cara! Tem é estratégia de assalto.
— Ah, eu aaa-mo seu estilo.
— Fala logo, que eu estou toda empacada aqui.
— Eu acho que a gente precisa substituir o jornalismo investigativo pelo jornalismo de serviços...
— Pelo bigode de Stálin! Que diabo é isso?
— Assim, ó: jornalismo investigativo é o que fazem aquela revistinha e aquele jornaleco; o de serviços é o que eu faço, entendeu?
— Acontece que ninguém dá bola pra você. Adiantou negar o dossiê? Reparou? Você custa muito caro pra render tão pouco. Aliás, eu estou achando que esta nossa proximidade está é me ferrando.
— Ah, mas eu acabei com aquela revistinha, não acabei?
— Deixe de ser tonto! Nem aqui dentro o levam a sério. E quando mudar o governo? A dívida muda junto. E lá vai você puxar o saco do outro...
— Ah, mas o governo não vai mudar, Magnaníssima! Nunca mais. Nun-qui-nha!!!
— Como você é cretino! Falou tudo o que queria?
— Ah, eu iria propor uma seminário assim: PAPAC: Plano de Aceleração do Plano de Aceleração do Crescimento: Uma Pespectiva.
— Esqueça.
— Então tive outra idéia. E se eu deixar esse negócio de dossiê pra lá e começar a atacar o Banco Central?
— Mas você é impiedosamente ridicularizado nos cursos de economia. É usado de exemplo de como o jornalismo pode ser energúmeno. Fazem até um trocadilho com o seu nome que, em inglês, cheira mal pra caramba. Acho a crítica injusta com o jornalismo, já que você, a gente vê, não é jornalista. Nunca vi ninguém que levasse a sério as suas opiniões.
— Ah, a digníssima está sendo injustíssima. Olhe só: fui chamado para dar uma palestra para a Associação Comercial de Xiririca da Serra, para a Federação das Indústrias de São Jose do Mato Dentro, para a Liga das Senhoras de Cabrobó do Livramento. A Valentíssima precisa de ver...
— “Precisa de ver”? Adotou a regência do Apedeu..., digo, do sindicalismo?
— Desculpe-me. A Enormíssima precisa ver. Outro dia, acabei com a política monetária numa palestra em Pirarucu da Pororoca. Nossa! Fiz picadinho do Meirelles.
— Imagino. Ele deve estar arrasado... O que o trouxe aqui?
— Pra ser sincero, grana!
— Mas você já recebeu.
— É, mas surgiram algumas emergências. Eu precisava de...
— Grana viva!
— Isso!
— Já estou ficando com o saco cheio. Eu insisto. Eu acho que esta proximidade está contribuindo pra me ferrar. Mas vá lá... Procure o Marquinho...
— Obrigadíssima!!!
— “Obrigadíssimo!” Você tem de falar “Obrigadíssimo”!!!
— Imagine!!! Eu é que agradeço...

08/04/2008
— Exponencialíssimaaa...
— Que foi? Enlouqueceu? Que palavra é essa?
— Ah, sei lá... Achei que ficaria bom. A Grandíssima sabe que meu vocabulário não alcança a variedade do seu caráter.
— Olha aí, ta molhando...
— Hein? O quê?...
— O tapete. A baba tá molhando o tapete.
— Ah, desculpe. A Generalísima mandou me chamar?
— Mandei. Você viu que a Cartilha Nostra acabou ferrando você, né?
— Como assim, Sapientíssima?
— Ué, você não escreveu que Nino, o Italianinho, não tinha fontes coisa nenhuma, que todas as colunas deles eram pautadas pelo Lobo Mau?
— Uai, a Perfeitíssima sabe como sou: pagando direitinho, basta mandarem, e eu escrevo. Eles mandaram escrever isso daquele Italianinho. E eu escrevi.
— Pois é. Mas a Cartilha Nostra, que, afinal, é nossa, diz que Nino, o Itatalianinho, tem, sim, as fontes. O objetivo da matéria não era ferrar o caçador da anta?
— Ai, meu Deus! E agora? Já sei, tive uma idéia...
— Xiii...
— E se eu começasse a fazer versos?
— O quê???
— É, começo a fazer versos de destruição em massa.
— Isso se houvesse massa, né, babaca?
— É que me faltam recursos, sabe?
— Entendi, eu o chamo aqui para deixar claro que vocês fizeram uma grande besteira, e você, pra variar, tenta levar uma grana viva...
— Ai, Edulcoradíssima, a Gigantíssima também não considera o custo que está sendo negar a existência do dossiê. A minha credibilidade...
— Que credibilidade, mané?
—... Tá, o que me restava de credibilidade foi para o ralo...
— Problema seu. Olhe aqui: tente achar uma boa desculpa lá com os anões. Ou mando executar a sua dívida. Ah... Pelo cavanhaque de Ho Chin Minh!!!
— O que foi, Saradíssima?
— Não esculache! Você babou no meu suéter vermelho...
— Desculpíssima! Desculpíssima!

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