segunda-feira, maio 21, 2007

O Perigo da divisão racial!

Alerta laranja! Já não basta a nossa guerra urbana, que ceifa anualmente quase 50 mil vidas, corremos o risco de ter outra guerra civil, desta vez, de negros enfrentando brancos. Tudo isso, graças às estúpidas políticas raciais em implantação no Brasil, que pretensamente, querem reduzir as diferenças sócio-econômicas entre raças, mas que se forem adiante, apenas irá criar um ambiente de ressentimento e ódio entre brancos e negros. Tais políticas ignoram completamente que o Brasil é um país de mestiços e forjam uma cultura racista que aqui nunca existiu. Não estou negando que existe racismo, mas sim, quero dizer que este é fruto de ações individuais, não um traço marcante de nossa identidade. Fosse assim, não haveria miscigenação por estas terras. Nos EUA, p. ex, até meados do século passado havia escolas para brancos e escolas para negros. Em algumas estações de trem havia salas para brancos e salas para negros. Nunca houve nada parecido com isso na terra brasilis!
Uma amostra de como os ânimos estão se acirrando, pode ser vista em uma reportagem da revista VEJA [1], cujo conteúdo revela que autores de um livro que questiona a eficiência das medidas que visam a promover a tal "igualdade racial", tais como, cotas para negros em universidades, estão sofrendo ameaças de militantes do movimento negro. Bastou ser divulgada a notícia do lançamento do livro para surgirem textos na internet que incitam os militantes a usarem até mesmo de violência física contra os organizadores do evento.
Ainda não esgotei o assunto e pretendo falar mais disso em posts futuros, mas quero manisfestar minha preocupação com a radicalização do discurso da militância negra, e também minha indignação com este governo, que de certa forma, incentiva a intolerância, haja visto as palavras da ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, que disse certa vez que "não é racismo um negro se insurgir contra um branco"! Neste ambiente de animosidade, todos perdem, sem distinção de raça!

1. Assinantes da revista podem ler a reportagem aqui . Quem não é assinante pode conferir a reportagem neste outro endereço aqui

4 comentários:

Luiz Mendes Junior disse...

Concordo que de fato não vivemos em uma nação biracial, e que nessa corrida desesperada para se entender e solucionar as desigualdades sociais que se refletem claramente no retrato étnico absolutamente desigual do país têm gerado grandes mal-entendidos por todos os lados.
Concordo também que a principal causa dessa desigualdade não é o racismo. Um negro que tenha usufruido bom rendimento em boas escolas particulares, cursado a faculdade pública e que se mostre bem preparado para o mercado de trabalho, tenderá a ser absorvido por ele, ainda que encontre obstáculos nesse ou naquele emprego em virtude de um racismo que, apesar de presente e constante, não é suficientemente intenso para gerar esta desigualdade que conhecemos. O cerne de problema é mais social que racial, mas parece que este fato, na cabeça de muitos "brancos" não-afetados, torna o problema menor, como se o fato de ser ele mais social do que racial o fizesse menos alarmante, menos urgente, menos embaraçoso. Este "branco" se sentiria mais envergonhado e talvez encourajado a agir se soubesse que o problema era mais racial. Como não é, então o considera mais tolerável, e as coisas continuam do jeito que estão, e este "branco" pode ficar com sua consciencia mais tranquila, orgulhando-se de viver num país menos "racista" do que os EUA.

Até onde é melhor para este negro poder ter um Zico como ídolo e se enxergar mais brasileiro do que negro ou afro, se, na maioria dos casos ele usufrui poucos dos benefícios dessa multicultura e sua educação o impede de apreciar a própria riqueza de seu mundo.

Outro ponto importante é o seguinte. O racismo no Brasil não está nas pessoas mais do que na própria cultura, uma cultura ainda arraigada em valores coloniais e escravistas, onde inconscientemente as pessoas são levadas a colocar o negro em "seu devido lugar". Ligue a televisão e veja claramente este desejo de um país mais claro; folheie as revistas de beleza e conte quantos negros aparecem; pergunte-se quantas mulheres negras já posaram para a playboy em seus trocentos anos de história e verá que são poucas.

Muitos falam que a política de cotas pode gerar um novo tipo de racismo no brasil, antes inexistente. Não sei até onde concordo com isso. Minha opinião é a de que esse racismo supostamente inexistente sempre existiu, mas ainda não foi colocado para fora, nem por brancos e nem por negros, porque ainda não tivemos um momento de confronto em que os negros pudessem deixar coleticamente seus postos subalternos e competir com os "claros" pelos postos mais altos. Cada vez que nosso "racismo amigável" é confrontado com políticas afirmativas, os ânimos se afloram, e a roupa suja que nunca foi lavada vem a tona. Negros e brancos jamais acertaram suas contas no Brasil, mas os ódios, os traumas, as injustiças, as rixas não resolvidas sempreestiveram presentes, emergindo em situações esporádicas que nos fazem pensar que o racismo está apenas em algumas pessoas. Não está só nelas, mas em todos, no ar, numa cultura que subliminarmente diz "preto é feio", "preto é sujo", "preto é pobre", "preto é burro", "preto é bandido". Negros e brancos, confrontemos nossos racismos de uma vez por todas! Pessoalmente, nem sou sequer favorável à política de cotas raciais (penso que talvez cotas sociais ou cotas para alunos de colégios públicos sejam mais adequadas), mas me choca ver que esses brancos indignados com as cotas mostram-se infinitamente menos indignados diante da igualmente injusta situação atual. Se a pseudo-democracia racial é confrontada, eles se levantam na hora, mas diante do absurdo que vivemos por décadas, a maioria simplesmente cruza os braços, limitando-se a discursos esperançosos de que "um dia" a situação mude.

Pimenta nos olhos dos outros é refresco.

Dellano disse...

Luiz, achei interessante o seu comentário, porém tenho algumas observações a fazer:
- não entendi direito a que tipo de racismo vc se refere qdo diz que "muitos falam que a política de cotas pode gerar um novo tipo de racismo no brasil...". O que eu disse em meu post e que a implantação da política de cotas racias poderá levar a um ÓDIO RACIAL, por que ignora o fato de que brancos pobres passam pelas mesmas dificuldades do que negros pobres. Imagine uma situação em que 2 pessoas, uma branca e uma negra, ambas pobres, prestando vestibular para um mesmo curso. O indivíduo branco se esforçou mais para esta prova, e por isso tirou uma nota melhor do que o negro. Só que por causa da política de cotas, o primeiro foi preterido em favor do segundo. Vc não acha que o branco ficaria com raiva do negro por ter entrado na faculdade mesmo com uma nota menor? Não acha que os brancos pobres, ao serem excluídos das políticas de inclusão social do governo não descontariam sua frustação em cima dos indivíduos de cor?
- não concordo com esta afirmação de que " .. esses brancos indignados com as cotas mostram-se infinitamente menos indignados diante da igualmente injusta situação atual". Está parecendo aquele discurso idiota do ex-governador Cláudio Lembo que falou na existencia 'de uma elite branca e má' durante a primeira onda de ataques do PCC.
Para mim só existe um caminho para a distribuição de renda: crescimento econômico sustentável, que só é obtido redução do papel do Estado ao mínimo necessário, e a criação de um ambiente favorável a negócios e ao empreendedorismo. O resto é bravata!
Eu recomendo a vc a leitura do livro "Não somos racistas" do direitor de jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel. Ele elucida muito bem a questão racial no Brasil e as consequências funestas da aplicação das políticas de igualdade racial.

Luiz Mendes Junior disse...

Já li o livro do Kamel, e, apesar de achá-lo um cara muito inteligente, e tb o livro muito interessante em alguns aspectos, descordo dele em relação ao modo como este vê a problemática do racismo no Brasil. Neste livro, ele enfatiza muito o lado social do racismo, mas praticamente ignora o lado colonial, histórico do racismo bastante presente no inconsciente coletivo do brasileiro, e esse racismo colonial ultrapassa o racismo social, embora, esteja, claro, a ele ligado.

O racismo no Brasil é inconsciente, é um valor cultural partilhado pela maioria de que os povos brancos ou europeus são mais nobres. Estudos genealógicos recentes revelaram que certos negros brasileiros possuem uma ancestralidade mais européia do que africana e, guess what, diante da notícia, alguns desses negros se sentiram, digamos assim, gratamente surpresos, tipo "Ei! Então eu também tenho sangue nobre!". É uma coisa inconsciente, é uma noção nacional pós-colonialista de que certas civilizações e ancestralidades são mais nobres do que outras, noções pautadas no retrato social da nossa formação. Os negros tb não estão imunes a elas, partilham desses mesmos valores. Uma vez que descubram que "também são brancos", sentem-se imediatamente "mais nobres", embora nem sempre admitam publicamente.

Sobre a história do branco pobre, eu concordo com vc. Penso que a questão das cotas deveria ser mais pensada socialmente do que racialmente, mas esses brancos pobres são os únicos que, diante da atual conjuntura, ostentam algum direito de reclamação. O que vejo, no entanto, é uma indignação maior dos brancos classe média, pois se para estes o número de vagas disponíveis era pequeno, ficou ainda menor. Injusto? Possivelmente. A maioria dos brancos do Brasil tb não consegue cursar uma faculdade pública. Mas o que eu coloco em foco é o seguinte... cada um só se levanta quando sente doer a própria bunda. Não sou contra a rediscussão das cotas, ou a transformação de cotas raciais em sociais; mas acho que a simples mudança da política fez nossos brancos classe-média saírem da acomodação, porque enquanto eles não eram diretamente prejudicados, tavam se lixando para as injustiças que já aconteciam "Foda-se essa crioulada, eu jé tenho meus problemas!". Uma vez que a areia foi mexida, e isso sempre acontecerá cada vez que a areia for mexida, e não falo isso só em relação a atual situação racial do país, as pessoas vão tentar sedimentar e trazer tudo de volta ao que era. Sabe por que? Porque, no fundo, uma boa parte dos brasileiros é incapaz de ceder um pouquinho dos direitos para corrigir as injustiças do país. "Se é para ceder, que o outro ceda, e se eu tiver que ceder, então é mehor deixar tudo do jeito que está mesmo, e QUE SE FODA, pq no meu pirão ninguém mexe!"

Algumas roupas sujas precisam ser lavadas se alguém quiser mudar alguma coisa nesse país. As cotas raciais ao menos serviram para fazer as pessoas se levantarem do sofá e rediscutir certas questões sociais do país com o mínimo senso de urgência.

O Kamel disse que o racismo do Brasil é mais um problema individual de algumas pessoas. Não é. É da cultura, é do VALOR COLETIVO que todos respiram.

Anônimo disse...

Gostei do texto, acho que devemos falar sobre isso! Talvez podemos falar também sobre todo tipo de preconceito que existe no Brasil e que forma parte do rascimo inconsciente neste país, tal como clase social, opção sexual e credo.